A maldição da peça escocesa
Doenças e atropelamentos marcam a mais recente montagem de Macbeth e reforçam uma crença de 400 anos:encenar a tragédia de Shakespeare sobre o rei da Escócia traz má sorte
Tradutor de William Shakespeare há duas décadas, Marcos Daud já amargou inúmeros problemas na gigantesca tarefa de exprimir em português diálogos e enredos que fi guram entre os mais poéticos e profundos da literatura ocidental. Nunca, porém, encontrara obstáculo tão desafiador como o que Macbeth lhe impôs recentemente. Tinha 25 anos quando enfrentou o bardo pela primeira vez. Escutando os conselhos traiçoeiros da audácia juvenil, rejeitou o caminho relativamente suave das comédias e quis traduzir logo de cara um complexo drama histórico, Ricardo III. Conseguiu, ainda que hoje considere o resultado apenas passável. Depois, se aventurou por outras cinco peças, incluindo Hamlet, que os estudiosos julgam a obra máxima do autor inglês. Em todas as ocasiões, arrancou os cabelos – vastíssimos, aliás – diante de palavras e expressões que saíram de circulação ou que, no tempo do dramaturgo, representavam uma coisa e agora mudaram de significado. Sem mencionar a dificuldade para atravessar rebuscados trechos em versos e convertê-los na prosa fluente que as platéias atuais exigem.
Mesmo assim, nada lhe pareceu pior do que desbravar Macbeth, a sétima de suas traduções.
Supersticioso de carteirinha, não ousava pronunciar nem redigir o título da peça desde que enveredou pelo universo teatral (também é ator). Acredita que o nome dá azar, muito azar, e não está sozinho no barco. Quatro séculos atrás, já se alimentavam inquietações do gênero, que só perduram porque, de fato, acidentes, doenças e outros percalços costumam rondar as montagens. Não à toa, mal se deparou com a oferta para encarar o texto, Marcos estremeceu. O produtor Alexandre Brazil lhe fez o convite. Pretendia encenar o espetáculo em um pequeno e simpático espaço de São Paulo, a Sala Crisantempo, na Vila Madalena, o que realmente aconteceu, entre os dias 12/10 e 25/11.
Por colocar a tragédia no rol das melhores de Shakespeare, Marcos desejava aceitar a missão. Mas como, se temia grafar o perigoso nome – que, para piorar, coincide com o do protagonista? De início, tentou uma alternativa: escrever M. sempre que o substantivo nefasto surgisse. À medida que o trabalho avançava, percebeu o ridículo da situação e decretou: “Ou você pega o touro à unha, ou desiste de tudo”. Foi dificílimo resolver. Depois de várias hesitações, se encheu de coragem e saltou do precipício: abdicou do M. para se curvar à grafia completa. No entanto, manteve a precaução de jamais falar o termo proibido. Até hoje, refere-se à peça somente como “Aquela”, “a Dita Cuja”, “a Inominável”, “a Tragédia da Escócia” ou “a Escocesa”. Chama o protagonista de “o General”.
A tradução consumiu três meses, período em que nada de ruim ocorreu com Marcos. Já o elenco do espetáculo e a equipe de produção não desfrutaram igual sorte...
ATO 1 - O REI QUE GOSTAVA DE DEMONOLOGIA
Quando concebeu a Inominável, no biênio de 1605-1606, Shakespeare alinhavava uma outra tragédia: Rei Lear. Era um homem maduro, de 41 anos, que gozava de enorme prestígio em razão de sucessos anteriores, como Romeu e Julieta ou mesmo Hamlet. Tudo indica que escreveu a Dita Cuja por encomenda de Jaime 10, monarca da Inglaterra. O dramaturgo teria recebido a incumbência de resgatar as origens escocesas do soberano. Adaptou, então, a trajetória verídica de M., militar que comandou a Escócia entre 1040 e 1057, depois de matar o rei Duncan, e que acabou assassinado, em nome da justiça, por um filho do governante morto.
Na peça, o General se mostra bem mais cruel que o de carne e osso. Regressando vitorioso de uma batalha, o personagem ouve de três feiticeiras a predição de que, um dia, ocupará o trono escocês. Revela o presságio à esposa, Lady M., que argumenta: se é assim, por que esperar? Por que não usurpar a coroa de imediato? Ainda que vacilante, o General deixa-se levar pela tentação e apunhala Duncan, que admirava. Para garantir-se no poder, pratica novas traições, causa outras mortes e pede mais conselhos às três bruxas.
Fantasmagórica, sangrenta, a tragédia em cinco atos se desenrola principalmente à noite e discorre não apenas sobre ambição, mas também sobre culpa, hipocrisia e degradação moral. O texto, magnífico, já propiciou encenações memoráveis (por aqui, destaca-se a de 1992, sob a batuta de Antunes Filho) e uma trinca de adaptações cinematográficas indispensáveis: as de Orson Welles (1948), Akira Kurosawa (1957) e Roman Polanski (1971). Num dos monólogos mais famosos do script original, o protagonista constata: “A vida não passa de uma sombra que passa. (...) É uma história narrada por um idiota, cheia de fúria e som, que não significa nada”.
Conta-se que, em 1606, o menino que interpretava Lady M. morreu durante uma das primeiras apresentações da peça. À época, as mulheres não podiam trabalhar como atrizes. Por isso, homens jovens ou até crianças assumiam os papéis femininos. Apesar de ninguém saber se houve mesmo o incidente, o boato se espalhou e nutriu a crença de que infortúnios acompanham o espetáculo. Coincidência ou não, ao longo dos séculos, registraram-se inusitados contratempos em diversas montagens.
“A maldição”, explica Marcos Daud, “derivaria do fato de as bruxas exercerem uma função-chave na narrativa.” As criações de Shakespeare costumam abrir espaço para o sobrenatural. Falam de elfos, duendes, fadas e espíritos. Mas somente a Tragédia da Escócia ressalta o “lado negro da força”, a feitiçaria. Segundo certos esotéricos, as mandingas que aparecem na trama se assemelham às de rituais verdadeiros. “O bardo invocou as trevas e as conseqüências vieram...”, conclui o tradutor. Por que as invocou? Provavelmente, para agradar Jaime X – que, embora cristão, se interessava pelo paganismo e publicou um célebre livro sobre demonologia.
Reza a lenda que o melhor jeito de fugir das tais mazelas é nunca montar a Escocesa. Entretanto, consciente de que o mundo está repleto de cabeças-duras, a superstição proclama existir ainda uma saída àqueles que teimam em brincar com fogo: para se proteger, quem fizer a peça não deve enunciar o nome agourento dentro do teatro, à exceção de quando se encontrar no palco. Por via das dúvidas, Marcos se esquiva de dizê-lo em qualquer lugar.
ATO - 2 O CASO DO GATO ATROPELADO
Os sobressaltos na temporada da Vila Madalena começaram já durante os ensaios. Primeiro, a diretora Regina Galdino não conseguia definir o ator que iria encarnar o rei Duncan. Quatro intérpretes se comprometeram com o papel, mas o largaram: três por motivos de saúde e o quarto porque decidiu participar de outro projeto. Faltando uma semana para a estréia, Regina – que jamais encenara um Shakespeare – ainda não tinha o monarca. Foi Ariel Moshe, experiente ator e diretor de 51 anos, com 114 peças no currículo, quem a salvou. Decorou os diálogos e esculpiu o personagem em míseros cinco dias. Sentia-se confiante e não ligava para os temores que a tragédia desperta. Logo depois de entrar em cartaz, porém, tomava um café num boteco da avenida Angélica quando um jovem se aproximou e, discretamente, lhe encostou um revólver na barriga: “Fique tranqüilo e passe a grana”. Ariel acabara de sacar R$ 600 em um caixa eletrônico. Entregou cada centavo para o ladrão. Nunca sofrera um assalto antes.
O ator Marcos Suchara, protagonista do espetáculo, se viu igualmente às voltas com um roubo, só que de natureza imaterial. Três mulheres de meia-idade lhe furtaram o sono por três noites consecutivas. O fenômeno se deu na época dos ensaios. Em pesadelo, as mulheres invadiam o quarto onde ele dormia e o acordavam. Duas o acariciavam e a terceira, que portava uma lâmina curta, arrancava-lhe o dedão do pé esquerdo. Assim que o sangue jorrava, Suchara despertava de verdade. No mesmo período, as atrizes Imara Reis e Silmara Deon – que viviam as Bruxas 1 e 3, respectivamente – lutavam com uma penosa insônia. Atravessavam madrugadas inteiras sem pregar os olhos. Quando muito, adormeciam por um instante e retornavam à vigília, que durou quatro semanas.
Não bastasse, um motoqueiro atropelou Imara 15 dias após a estréia. Às 18 horas de uma segunda-feira, saindo de casa, a atriz precisou cruzar a alameda Campinas, na região da avenida Paulista. Mal encerrava a travessia, a moto a atingiu, de raspão. “Como pratiquei tai chi chuan, tenho reflexos rápidos e caí em câmera lenta, com leveza, sobre a calçada.” Feriu o cotovelo e o joelho esquerdos, que incharam e ainda doem.
Estranhamente, Silmara também se meteu num atropelamento. Depois de ensaiar, pegou carona com a colega Luciana Ramanzini, que fazia a Bruxa 2. Eram 23h. Trafegavam pelo bairro da Pompéia quando um gato malhado, branco e marrom, apareceu do nada. Luciana apertou o freio do Ford Ka, mas não impediu o choque. Desceu do carro trêmula, à procura do felino. “Não o encontrei. Havia apenas tufos de pêlo no asfalto.”
Nem mesmo a assessora de imprensa Adriana Monteiro, responsável por divulgar a peça, se livrou das encrencas. Num sábado à tarde, conversava pelo celular com uma amiga, a atriz Tuna Dwek, e nquanto reformava um móvel de jardim. “Hoje à noite, estava pensando em ver...”, e mencionou o nome da Escocesa. Tuna a repreendeu: “Não fale!”. Quase simultaneamente, Adriana deixou escapar a tesoura que usava na reforma. O utensílio lhe perfurou a mão esquerda. “Levei três pontos.”
De todas as histórias, entretanto, a mais dramática é a de Alexandre Brazil. Em meio à correria dos ensaios, o produtor que teve a idéia de montar o espetáculo identificou um câncer no rim. “Sentia um cansaço grande, um incômodo nas costas, e achei prudente consultar o médico. Como sempre padeci horrores com pedras nos rins, imaginei se tratar de uma nova crise. Era mais grave.” A Inominável estreou numa sexta-feira. No domingo, Alexandre, de 30 anos, enfrentava uma cirurgia. Agora está se recuperando. Diferentemente de Marcos Daud e à semelhança de Regina Galdino, Ariel Moshe, Marcos Suchara, Imara Reis, Silmara Deon, Luciana Ramanzini e Adriana Monteiro, ele nunca evitou pronunciar o título da peça dentro de teatros.
ATO 3 - ....E O TEATRO PEGOU FOGO
Mas, afinal, o que aconteceu? Existe um elo misterioso entre as intempéries que afetaram a trupe? Paga-se mesmo um preço alto pela ousadia de encenar a Dita Cuja? Cética, a diretora Regina Galdino sustenta que não. “Confio no acaso.” E também na lógica: “Por que custei para preencher o papel do rei Duncan? Simplesmente porque buscava profissionais mais velhos, acima dos 60 anos. Natural que três candidatos adoecessem. Quando optei por Ariel Moshe, um cara de 51, as dificuldades acabaram”. Ela lembra que, para brincar com a superstição, cogitou iniciar os ensaios numa sexta-feira 13. “Dia 13 de julho de 2007, sexta-feira, pode espiar o calendário.” Desistiu por imposições burocráticas. Treze, contudo, é o número de atores que integravam o elenco. “É?”
Ariel concorda com Regina: “Bobagem temer o texto. Raras vezes atravessei um período tão feliz quanto o que vivi durante aquela temporada”. Já os outros envolvidos nos incidentes preferem a cautela. Não afirmam que os imprevistos decorreram da maldição, mas tampouco negam. “Sei lá... Às vezes, pergunto se a energia pesada do espetáculo me tornou mais suscetível à doença”, divaga Alexandre Brazil. “De qualquer modo, não me arrependo de tê-lo produzido. É a minha peça predileta de Shakespeare, um enredo incrível, que extrai imensa beleza do horror.” Com três décadas de carreira, Imara Reis garante que jamais presenciou “tamanha zica” numa única montagem. “Fiquei meio desconfiada, sim.”
Marcos Suchara, intérprete do General, ficou desconfiadíssimo. Em 1992, debutou nos palcos fazendo um papel secundário justamente na Tragédia da Escócia. Antonio Fagundes a protagonizava. O Teatro Arthur Rubinstein, do clube paulistano A Hebraica, abrigou a trama e... pegou fogo! “O incêndio começou à tarde, nas coxias, pouco antes de o elenco chegar”, recorda o ator. Ninguém se feriu. Quando a montagem viajou para Santos (SP), houve nova surpresa: um refletor despencou do teto e quase acertou Fagundes, que estava solitário em cena. “Problemas lá, problemas aqui... Esquisito demais.”
Suchara relaciona os pesadelos recorrentes que o acometeram com um trecho específico da Escocesa. “Três mulheres me cortavam o dedão do pé, certo? No primeiro ato da narrativa, o trio de feiticeiras conversa exatamente sobre o dedo que uma delas arrancou de um marinheiro.” Silmara Deon cita trecho idêntico para justificar a insônia que a infernizou. “Naquela conversa, as bruxas planejavam tirar o sono de outro marujo por ‘nove vezes nove semanas’. Vai ver me deixei influenciar.” No quarto ato, promoviam um ritual em que declamavam: “Três vezes o gato mia sem demora/ três vezes o porco-espinho chora/ até que o demônio grita – ‘Já é hora!’”. Foi logo depois de ensaiar a magia exaustivamente que Silmara e Luciana Ramanzini atropelaram o bichano da Pompéia.
EPÍLOGO - O DIA EM QUE SÃO PAULO PAROU
O anedotário teatral propaga que, se alguém disser a palavra ardilosa em terreno inadequado, deve correr para a rua, dar três voltas ao redor de si e cuspir ou berrar um palavrão. Agindo assim, anula os efeitos negativos do deslize. Na realidade, atitudes desse tipo são muito comuns entre atores, diretores e produtores, mesmo quando a Inominável não está em jogo. Poucos profissionais carregam tantas superstições. Assobiar nos camarins traz maus fluídos. Desejar “boa sorte” atrai precisamente o inverso: um azar dos diabos. O correto é desejar “merda”, à maneira dos artistas franceses, ou “quebre a perna”, conforme a tradição anglo-saxã. A maior atriz do país, Fernanda Montenegro, cultiva o hábito de segurar um prego torto enquanto aguarda para entrar em cena. Sua filha, Fernanda Torres, só pisa no palco com o pé direito.
O elenco e a equipe técnica da Dita Cuja não fugiram à regra. Em busca de “equilíbrio”, “concentração”, “alto-astral”, “luz”, “axé” ou “uma força contra a inveja”, apelavam para “as obsessõezinhas de praxe”. Embora se considere a mais incrédula do grupo, Regina Galdino fez todas as anotações sobre a peça em cadernos de capas amarelas. “Procuro me cercar da cor nas montagens difíceis. Amarelo, você sabe, simboliza o ouro, a fortuna...” Minutos antes de o espetáculo começar, Ariel Moshe batia três vezes o pé direito no chão e murmurava um nome próprio, que não revela nem sob tortura. “Uma prima me ensinou o truque.” Imara Reis, também nos bastidores, se agachava, repousava as mãos sobre o solo, fechava os olhos e pedia licença “aos deuses e aos colegas que morreram” para adentrar o tablado. Luciana Ramanzini enfeitava o camarim com um dragãozinho chinês de metal que ganhou da atriz e amiga Vivian Buckup. “Serve de amuleto.” Alexandre Brazil rezava um pai-nosso tão logo cruzasse a porta da Sala Crisantempo. Marcos Suchara deixava, em casa, uma vela acesa para seu anjo da guarda. Silmara Deon providenciava outra, para Santo Antônio de Pádua.
Havia, ainda, dois rituais coletivos que antecediam as apresentações. Nas coxias, atores e técnicos davam-se as mãos, formavam um círculo e se encaravam, silenciosos. Depois, sem desmanchar a roda, balançavam os braços para cima e para baixo, em meia-lua, e entoavam: “Um por todos e todos por um! Brilhem! Merda!”. Aprenderam “o grito de guerra” com Paulo Autran.
“Nós, do teatro, somos no fundo uns inseguros”, avalia Marcos Daud. “E a insegurança deriva principalmente do narcisismo”, completa Ariel Moshe. “Pense bem: o narciso parte do princípio de que é perfeito. Em conseqüência, julga que não pode falhar. Quer melhor combustível para a insegurança?”
“Sim”, prossegue Marcos, “somos uns pobrezinhos, uns pueris. Desejamos nos exibir, mas trememos de medo sob o risco de esquecer o texto, de perder o talento, de o público nos abandonar. Não tem superstição que compense tanta fragilidade.”
Quinta-feira, 10/11, 18h20. Na redação de BRAVO!, me preparo para iniciar as apurações sobre a Escocesa. Preciso entrevistar uma porção de gente. Quem encabeça a lista é Regina Galdino. “Alô? Boa noite, Regina, estou fazendo uma repor tagem a respeito de...” Pronuncio o nome da peça. No mesmo segundo, o prédio da Editora Abril sofre uma rapidíssima pane de energia, que corta a ligação. Lá fora, a chuva aumenta. Vira um temporal. Os jornais da manhã seguinte contabilizam o estrago: 176 quilômetros de congestionamento na cidade, 107 semáforos em colapso, queda de árvores, granizo. Me desculpe, São Paulo...
Coincidência ou conspiração do além?
Alguns episódios que alimentam as superstições em torno de Macbeth
• Em 1606, na primeira montagem da peça, o garoto que fazia Lady Macbeth teria morrido durante uma das apresentações. À época, na Inglaterra, as mulheres não podiam trabalhar como atrizes. Por isso, homens jovens ou mesmo crianças se encarregavam dos papéis femininos. É difícil comprovar se de fato o incidente ocorreu. As versões que o sustentam não definem a causa mortis, mas dizem que o garoto se chamava Hal Berridge.
• Em 1849, o célebre ator londrino William Charles Macready protagonizava a tragédia num teatro de Nova York, o Astor Place Opera House. Fãs de seu rival, o intérprete norte-americano Edwin Forrest, que também encenava o espetáculo na cidade, não gostaram de ver o inglês por perto e, com o apoio de grupos nacionalistas, provocaram um imenso quebra-quebra. Cerca de 20 mil pessoas atacaram o Astor Place, e a Guarda Nacional precisou agir. Resultado: 30 mortos e 120 feridos, segundo as estimativas mais alarmistas. Macready, que estava no palco, só conseguiu abandonar o teatro depois de se disfarçar.
• Em 1937, enquanto produzia a tragédia no Old Vic de Londres, o ator britânico Laurence Olivier enfrentou uma série de contratempos. O diretor da montagem, por exemplo, sofreu um acidente de carro e teve de ser substituído às pressas. Pouco antes da estréia, Lilian Baylis, administradora do Old Vic, morreu.
• Em 1947, na cidade inglesa de Oldhan, um dos atores (Antony Oakley) apunhalou sem querer o protagonista da peça, Harold Norman, numa seqüência de luta. A vítima acabou falecendo.
• Em 1992, o Teatro Arthur Rubinstein, do clube paulistano A Hebraica, pegou fogo durante temporada do espetáculo. Ulysses Cruz assinava a direção e Antonio Fagundes interpretava Macbeth. Ninguém se machucou. Quando a montagem viajou para Santos (SP), houve outro imprevisto: um refletor despencou do teto e quase atingiu Fagundes, que se encontrava sozinho em cena.
(revista Bravo!)
Tradutor de William Shakespeare há duas décadas, Marcos Daud já amargou inúmeros problemas na gigantesca tarefa de exprimir em português diálogos e enredos que fi guram entre os mais poéticos e profundos da literatura ocidental. Nunca, porém, encontrara obstáculo tão desafiador como o que Macbeth lhe impôs recentemente. Tinha 25 anos quando enfrentou o bardo pela primeira vez. Escutando os conselhos traiçoeiros da audácia juvenil, rejeitou o caminho relativamente suave das comédias e quis traduzir logo de cara um complexo drama histórico, Ricardo III. Conseguiu, ainda que hoje considere o resultado apenas passável. Depois, se aventurou por outras cinco peças, incluindo Hamlet, que os estudiosos julgam a obra máxima do autor inglês. Em todas as ocasiões, arrancou os cabelos – vastíssimos, aliás – diante de palavras e expressões que saíram de circulação ou que, no tempo do dramaturgo, representavam uma coisa e agora mudaram de significado. Sem mencionar a dificuldade para atravessar rebuscados trechos em versos e convertê-los na prosa fluente que as platéias atuais exigem.
Mesmo assim, nada lhe pareceu pior do que desbravar Macbeth, a sétima de suas traduções.
Supersticioso de carteirinha, não ousava pronunciar nem redigir o título da peça desde que enveredou pelo universo teatral (também é ator). Acredita que o nome dá azar, muito azar, e não está sozinho no barco. Quatro séculos atrás, já se alimentavam inquietações do gênero, que só perduram porque, de fato, acidentes, doenças e outros percalços costumam rondar as montagens. Não à toa, mal se deparou com a oferta para encarar o texto, Marcos estremeceu. O produtor Alexandre Brazil lhe fez o convite. Pretendia encenar o espetáculo em um pequeno e simpático espaço de São Paulo, a Sala Crisantempo, na Vila Madalena, o que realmente aconteceu, entre os dias 12/10 e 25/11.
Por colocar a tragédia no rol das melhores de Shakespeare, Marcos desejava aceitar a missão. Mas como, se temia grafar o perigoso nome – que, para piorar, coincide com o do protagonista? De início, tentou uma alternativa: escrever M. sempre que o substantivo nefasto surgisse. À medida que o trabalho avançava, percebeu o ridículo da situação e decretou: “Ou você pega o touro à unha, ou desiste de tudo”. Foi dificílimo resolver. Depois de várias hesitações, se encheu de coragem e saltou do precipício: abdicou do M. para se curvar à grafia completa. No entanto, manteve a precaução de jamais falar o termo proibido. Até hoje, refere-se à peça somente como “Aquela”, “a Dita Cuja”, “a Inominável”, “a Tragédia da Escócia” ou “a Escocesa”. Chama o protagonista de “o General”.
A tradução consumiu três meses, período em que nada de ruim ocorreu com Marcos. Já o elenco do espetáculo e a equipe de produção não desfrutaram igual sorte...
ATO 1 - O REI QUE GOSTAVA DE DEMONOLOGIA
Quando concebeu a Inominável, no biênio de 1605-1606, Shakespeare alinhavava uma outra tragédia: Rei Lear. Era um homem maduro, de 41 anos, que gozava de enorme prestígio em razão de sucessos anteriores, como Romeu e Julieta ou mesmo Hamlet. Tudo indica que escreveu a Dita Cuja por encomenda de Jaime 10, monarca da Inglaterra. O dramaturgo teria recebido a incumbência de resgatar as origens escocesas do soberano. Adaptou, então, a trajetória verídica de M., militar que comandou a Escócia entre 1040 e 1057, depois de matar o rei Duncan, e que acabou assassinado, em nome da justiça, por um filho do governante morto.
Na peça, o General se mostra bem mais cruel que o de carne e osso. Regressando vitorioso de uma batalha, o personagem ouve de três feiticeiras a predição de que, um dia, ocupará o trono escocês. Revela o presságio à esposa, Lady M., que argumenta: se é assim, por que esperar? Por que não usurpar a coroa de imediato? Ainda que vacilante, o General deixa-se levar pela tentação e apunhala Duncan, que admirava. Para garantir-se no poder, pratica novas traições, causa outras mortes e pede mais conselhos às três bruxas.
Fantasmagórica, sangrenta, a tragédia em cinco atos se desenrola principalmente à noite e discorre não apenas sobre ambição, mas também sobre culpa, hipocrisia e degradação moral. O texto, magnífico, já propiciou encenações memoráveis (por aqui, destaca-se a de 1992, sob a batuta de Antunes Filho) e uma trinca de adaptações cinematográficas indispensáveis: as de Orson Welles (1948), Akira Kurosawa (1957) e Roman Polanski (1971). Num dos monólogos mais famosos do script original, o protagonista constata: “A vida não passa de uma sombra que passa. (...) É uma história narrada por um idiota, cheia de fúria e som, que não significa nada”.
Conta-se que, em 1606, o menino que interpretava Lady M. morreu durante uma das primeiras apresentações da peça. À época, as mulheres não podiam trabalhar como atrizes. Por isso, homens jovens ou até crianças assumiam os papéis femininos. Apesar de ninguém saber se houve mesmo o incidente, o boato se espalhou e nutriu a crença de que infortúnios acompanham o espetáculo. Coincidência ou não, ao longo dos séculos, registraram-se inusitados contratempos em diversas montagens.
“A maldição”, explica Marcos Daud, “derivaria do fato de as bruxas exercerem uma função-chave na narrativa.” As criações de Shakespeare costumam abrir espaço para o sobrenatural. Falam de elfos, duendes, fadas e espíritos. Mas somente a Tragédia da Escócia ressalta o “lado negro da força”, a feitiçaria. Segundo certos esotéricos, as mandingas que aparecem na trama se assemelham às de rituais verdadeiros. “O bardo invocou as trevas e as conseqüências vieram...”, conclui o tradutor. Por que as invocou? Provavelmente, para agradar Jaime X – que, embora cristão, se interessava pelo paganismo e publicou um célebre livro sobre demonologia.
Reza a lenda que o melhor jeito de fugir das tais mazelas é nunca montar a Escocesa. Entretanto, consciente de que o mundo está repleto de cabeças-duras, a superstição proclama existir ainda uma saída àqueles que teimam em brincar com fogo: para se proteger, quem fizer a peça não deve enunciar o nome agourento dentro do teatro, à exceção de quando se encontrar no palco. Por via das dúvidas, Marcos se esquiva de dizê-lo em qualquer lugar.
ATO - 2 O CASO DO GATO ATROPELADO
Os sobressaltos na temporada da Vila Madalena começaram já durante os ensaios. Primeiro, a diretora Regina Galdino não conseguia definir o ator que iria encarnar o rei Duncan. Quatro intérpretes se comprometeram com o papel, mas o largaram: três por motivos de saúde e o quarto porque decidiu participar de outro projeto. Faltando uma semana para a estréia, Regina – que jamais encenara um Shakespeare – ainda não tinha o monarca. Foi Ariel Moshe, experiente ator e diretor de 51 anos, com 114 peças no currículo, quem a salvou. Decorou os diálogos e esculpiu o personagem em míseros cinco dias. Sentia-se confiante e não ligava para os temores que a tragédia desperta. Logo depois de entrar em cartaz, porém, tomava um café num boteco da avenida Angélica quando um jovem se aproximou e, discretamente, lhe encostou um revólver na barriga: “Fique tranqüilo e passe a grana”. Ariel acabara de sacar R$ 600 em um caixa eletrônico. Entregou cada centavo para o ladrão. Nunca sofrera um assalto antes.
O ator Marcos Suchara, protagonista do espetáculo, se viu igualmente às voltas com um roubo, só que de natureza imaterial. Três mulheres de meia-idade lhe furtaram o sono por três noites consecutivas. O fenômeno se deu na época dos ensaios. Em pesadelo, as mulheres invadiam o quarto onde ele dormia e o acordavam. Duas o acariciavam e a terceira, que portava uma lâmina curta, arrancava-lhe o dedão do pé esquerdo. Assim que o sangue jorrava, Suchara despertava de verdade. No mesmo período, as atrizes Imara Reis e Silmara Deon – que viviam as Bruxas 1 e 3, respectivamente – lutavam com uma penosa insônia. Atravessavam madrugadas inteiras sem pregar os olhos. Quando muito, adormeciam por um instante e retornavam à vigília, que durou quatro semanas.
Não bastasse, um motoqueiro atropelou Imara 15 dias após a estréia. Às 18 horas de uma segunda-feira, saindo de casa, a atriz precisou cruzar a alameda Campinas, na região da avenida Paulista. Mal encerrava a travessia, a moto a atingiu, de raspão. “Como pratiquei tai chi chuan, tenho reflexos rápidos e caí em câmera lenta, com leveza, sobre a calçada.” Feriu o cotovelo e o joelho esquerdos, que incharam e ainda doem.
Estranhamente, Silmara também se meteu num atropelamento. Depois de ensaiar, pegou carona com a colega Luciana Ramanzini, que fazia a Bruxa 2. Eram 23h. Trafegavam pelo bairro da Pompéia quando um gato malhado, branco e marrom, apareceu do nada. Luciana apertou o freio do Ford Ka, mas não impediu o choque. Desceu do carro trêmula, à procura do felino. “Não o encontrei. Havia apenas tufos de pêlo no asfalto.”
Nem mesmo a assessora de imprensa Adriana Monteiro, responsável por divulgar a peça, se livrou das encrencas. Num sábado à tarde, conversava pelo celular com uma amiga, a atriz Tuna Dwek, e nquanto reformava um móvel de jardim. “Hoje à noite, estava pensando em ver...”, e mencionou o nome da Escocesa. Tuna a repreendeu: “Não fale!”. Quase simultaneamente, Adriana deixou escapar a tesoura que usava na reforma. O utensílio lhe perfurou a mão esquerda. “Levei três pontos.”
De todas as histórias, entretanto, a mais dramática é a de Alexandre Brazil. Em meio à correria dos ensaios, o produtor que teve a idéia de montar o espetáculo identificou um câncer no rim. “Sentia um cansaço grande, um incômodo nas costas, e achei prudente consultar o médico. Como sempre padeci horrores com pedras nos rins, imaginei se tratar de uma nova crise. Era mais grave.” A Inominável estreou numa sexta-feira. No domingo, Alexandre, de 30 anos, enfrentava uma cirurgia. Agora está se recuperando. Diferentemente de Marcos Daud e à semelhança de Regina Galdino, Ariel Moshe, Marcos Suchara, Imara Reis, Silmara Deon, Luciana Ramanzini e Adriana Monteiro, ele nunca evitou pronunciar o título da peça dentro de teatros.
ATO 3 - ....E O TEATRO PEGOU FOGO
Mas, afinal, o que aconteceu? Existe um elo misterioso entre as intempéries que afetaram a trupe? Paga-se mesmo um preço alto pela ousadia de encenar a Dita Cuja? Cética, a diretora Regina Galdino sustenta que não. “Confio no acaso.” E também na lógica: “Por que custei para preencher o papel do rei Duncan? Simplesmente porque buscava profissionais mais velhos, acima dos 60 anos. Natural que três candidatos adoecessem. Quando optei por Ariel Moshe, um cara de 51, as dificuldades acabaram”. Ela lembra que, para brincar com a superstição, cogitou iniciar os ensaios numa sexta-feira 13. “Dia 13 de julho de 2007, sexta-feira, pode espiar o calendário.” Desistiu por imposições burocráticas. Treze, contudo, é o número de atores que integravam o elenco. “É?”
Ariel concorda com Regina: “Bobagem temer o texto. Raras vezes atravessei um período tão feliz quanto o que vivi durante aquela temporada”. Já os outros envolvidos nos incidentes preferem a cautela. Não afirmam que os imprevistos decorreram da maldição, mas tampouco negam. “Sei lá... Às vezes, pergunto se a energia pesada do espetáculo me tornou mais suscetível à doença”, divaga Alexandre Brazil. “De qualquer modo, não me arrependo de tê-lo produzido. É a minha peça predileta de Shakespeare, um enredo incrível, que extrai imensa beleza do horror.” Com três décadas de carreira, Imara Reis garante que jamais presenciou “tamanha zica” numa única montagem. “Fiquei meio desconfiada, sim.”
Marcos Suchara, intérprete do General, ficou desconfiadíssimo. Em 1992, debutou nos palcos fazendo um papel secundário justamente na Tragédia da Escócia. Antonio Fagundes a protagonizava. O Teatro Arthur Rubinstein, do clube paulistano A Hebraica, abrigou a trama e... pegou fogo! “O incêndio começou à tarde, nas coxias, pouco antes de o elenco chegar”, recorda o ator. Ninguém se feriu. Quando a montagem viajou para Santos (SP), houve nova surpresa: um refletor despencou do teto e quase acertou Fagundes, que estava solitário em cena. “Problemas lá, problemas aqui... Esquisito demais.”
Suchara relaciona os pesadelos recorrentes que o acometeram com um trecho específico da Escocesa. “Três mulheres me cortavam o dedão do pé, certo? No primeiro ato da narrativa, o trio de feiticeiras conversa exatamente sobre o dedo que uma delas arrancou de um marinheiro.” Silmara Deon cita trecho idêntico para justificar a insônia que a infernizou. “Naquela conversa, as bruxas planejavam tirar o sono de outro marujo por ‘nove vezes nove semanas’. Vai ver me deixei influenciar.” No quarto ato, promoviam um ritual em que declamavam: “Três vezes o gato mia sem demora/ três vezes o porco-espinho chora/ até que o demônio grita – ‘Já é hora!’”. Foi logo depois de ensaiar a magia exaustivamente que Silmara e Luciana Ramanzini atropelaram o bichano da Pompéia.
EPÍLOGO - O DIA EM QUE SÃO PAULO PAROU
O anedotário teatral propaga que, se alguém disser a palavra ardilosa em terreno inadequado, deve correr para a rua, dar três voltas ao redor de si e cuspir ou berrar um palavrão. Agindo assim, anula os efeitos negativos do deslize. Na realidade, atitudes desse tipo são muito comuns entre atores, diretores e produtores, mesmo quando a Inominável não está em jogo. Poucos profissionais carregam tantas superstições. Assobiar nos camarins traz maus fluídos. Desejar “boa sorte” atrai precisamente o inverso: um azar dos diabos. O correto é desejar “merda”, à maneira dos artistas franceses, ou “quebre a perna”, conforme a tradição anglo-saxã. A maior atriz do país, Fernanda Montenegro, cultiva o hábito de segurar um prego torto enquanto aguarda para entrar em cena. Sua filha, Fernanda Torres, só pisa no palco com o pé direito.
O elenco e a equipe técnica da Dita Cuja não fugiram à regra. Em busca de “equilíbrio”, “concentração”, “alto-astral”, “luz”, “axé” ou “uma força contra a inveja”, apelavam para “as obsessõezinhas de praxe”. Embora se considere a mais incrédula do grupo, Regina Galdino fez todas as anotações sobre a peça em cadernos de capas amarelas. “Procuro me cercar da cor nas montagens difíceis. Amarelo, você sabe, simboliza o ouro, a fortuna...” Minutos antes de o espetáculo começar, Ariel Moshe batia três vezes o pé direito no chão e murmurava um nome próprio, que não revela nem sob tortura. “Uma prima me ensinou o truque.” Imara Reis, também nos bastidores, se agachava, repousava as mãos sobre o solo, fechava os olhos e pedia licença “aos deuses e aos colegas que morreram” para adentrar o tablado. Luciana Ramanzini enfeitava o camarim com um dragãozinho chinês de metal que ganhou da atriz e amiga Vivian Buckup. “Serve de amuleto.” Alexandre Brazil rezava um pai-nosso tão logo cruzasse a porta da Sala Crisantempo. Marcos Suchara deixava, em casa, uma vela acesa para seu anjo da guarda. Silmara Deon providenciava outra, para Santo Antônio de Pádua.
Havia, ainda, dois rituais coletivos que antecediam as apresentações. Nas coxias, atores e técnicos davam-se as mãos, formavam um círculo e se encaravam, silenciosos. Depois, sem desmanchar a roda, balançavam os braços para cima e para baixo, em meia-lua, e entoavam: “Um por todos e todos por um! Brilhem! Merda!”. Aprenderam “o grito de guerra” com Paulo Autran.
“Nós, do teatro, somos no fundo uns inseguros”, avalia Marcos Daud. “E a insegurança deriva principalmente do narcisismo”, completa Ariel Moshe. “Pense bem: o narciso parte do princípio de que é perfeito. Em conseqüência, julga que não pode falhar. Quer melhor combustível para a insegurança?”
“Sim”, prossegue Marcos, “somos uns pobrezinhos, uns pueris. Desejamos nos exibir, mas trememos de medo sob o risco de esquecer o texto, de perder o talento, de o público nos abandonar. Não tem superstição que compense tanta fragilidade.”
Quinta-feira, 10/11, 18h20. Na redação de BRAVO!, me preparo para iniciar as apurações sobre a Escocesa. Preciso entrevistar uma porção de gente. Quem encabeça a lista é Regina Galdino. “Alô? Boa noite, Regina, estou fazendo uma repor tagem a respeito de...” Pronuncio o nome da peça. No mesmo segundo, o prédio da Editora Abril sofre uma rapidíssima pane de energia, que corta a ligação. Lá fora, a chuva aumenta. Vira um temporal. Os jornais da manhã seguinte contabilizam o estrago: 176 quilômetros de congestionamento na cidade, 107 semáforos em colapso, queda de árvores, granizo. Me desculpe, São Paulo...
Coincidência ou conspiração do além?
Alguns episódios que alimentam as superstições em torno de Macbeth
• Em 1606, na primeira montagem da peça, o garoto que fazia Lady Macbeth teria morrido durante uma das apresentações. À época, na Inglaterra, as mulheres não podiam trabalhar como atrizes. Por isso, homens jovens ou mesmo crianças se encarregavam dos papéis femininos. É difícil comprovar se de fato o incidente ocorreu. As versões que o sustentam não definem a causa mortis, mas dizem que o garoto se chamava Hal Berridge.
• Em 1849, o célebre ator londrino William Charles Macready protagonizava a tragédia num teatro de Nova York, o Astor Place Opera House. Fãs de seu rival, o intérprete norte-americano Edwin Forrest, que também encenava o espetáculo na cidade, não gostaram de ver o inglês por perto e, com o apoio de grupos nacionalistas, provocaram um imenso quebra-quebra. Cerca de 20 mil pessoas atacaram o Astor Place, e a Guarda Nacional precisou agir. Resultado: 30 mortos e 120 feridos, segundo as estimativas mais alarmistas. Macready, que estava no palco, só conseguiu abandonar o teatro depois de se disfarçar.
• Em 1937, enquanto produzia a tragédia no Old Vic de Londres, o ator britânico Laurence Olivier enfrentou uma série de contratempos. O diretor da montagem, por exemplo, sofreu um acidente de carro e teve de ser substituído às pressas. Pouco antes da estréia, Lilian Baylis, administradora do Old Vic, morreu.
• Em 1947, na cidade inglesa de Oldhan, um dos atores (Antony Oakley) apunhalou sem querer o protagonista da peça, Harold Norman, numa seqüência de luta. A vítima acabou falecendo.
• Em 1992, o Teatro Arthur Rubinstein, do clube paulistano A Hebraica, pegou fogo durante temporada do espetáculo. Ulysses Cruz assinava a direção e Antonio Fagundes interpretava Macbeth. Ninguém se machucou. Quando a montagem viajou para Santos (SP), houve outro imprevisto: um refletor despencou do teto e quase atingiu Fagundes, que se encontrava sozinho em cena.
(revista Bravo!)
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